Novo estudo sugere que as esponjas não foram os primeiros animais do mundo

de Merelyn Cerqueira 0

Pesquisadores afirmaram ter desvendado um dos mais antigos mistérios da ciência: qual o mais antigo animal do mundo.

Este tem sido um debate de mais de um século, com cientistas concluindo que as esponjas do mar (porifera), devido à sua simplicidade biológica inerente, foram as primeiras formas de vida animal. 

Contudo, um novo estudo, publicado na revista Nature Ecology & Evolution, que utilizou uma forma de análise genômica mais modera, contestou essa afirmação de longa data, sugerindo que as águas-vivas-de-pente (ctenophora) são anteriores às esponjas, mesmo que sejam consideradas formas de vida mais complexas.

“O método atual que os cientistas usam em estudos filogenômicos coleta grandes quantidades de dados genéticos.

Depois, eles analisam esses dados para construir um conjunto de relações e, em seguida, argumentam que suas conclusões estão corretas por causa de várias melhorias que fizeram em sua análise”, explicou o biólogo Antonis Rokas da Universidade de Vanderbilt. “Isto funcionou extremamente bem em 95% dos casos, mas conduziu a diferenças aparentemente irreconciliáveis ​​nos 5%”.

Essas diferenças irreconciliáveis foram vistas de forma dispersa nas últimas décadas, com diferentes grupos de cientistas entrando em contradição e uma série de estudos genômicos afirmando alternadamente que as águas-vivas de pente ou esponjas eram os ramos mais antigos da árvore genealógica animal. 

O exemplo mais recente dessa afirmação foi em um estudo publicado no mês passado na revista Cell, que sugeriu que as esponjas vieram primeiro.

Agora, e a fim de descobrir o porquê de tantas contradições, Rokas e sua equipe criaram uma maneira de comparar os fenes compartilhados entre diferentes animais, uma vez que queria descobrir quem estava mais intimamente relacionado com quem. 

Para isso, testaram a abordagem em 18 relações tidas como controversas no campo da biologia evolutiva – sete de animais, cinco de plantas e seis de fungos – incluindo as esponjas e águas vivas de pente.

“Nessas análises, usamos apenas genes que são compartilhados entre todos os organismos”, explicou Rokas.

“O truque é examinar as sequências de genes de diferentes organismos para descobrir quais deles se identificam com seus parentes mais próximos”. 

“Quando olhamos para um determinado gene em um organismo – vamos chamá-lo de A – perguntamos se ele está mais estreitamente relacionado com a sua contraparte, um organismo B ou C e por quanto”, acrescentou.

Ao contrastar as diferenças sobre quanto de cada gene suporta uma hipótese em particular, a equipe veio com uma medida que chamaram de sinal filogenético.

Segundo eles, quanto maior esse sinal, mais provável é que um animal esteja relacionado com outro que veio antes dele. Isso significa que é mais provável que ele tenha evoluído e existido antes do que se pensava.

A equipe descobriu que as águas-vivas-de-pente apresentavam de forma mais significativa genes que apoiavam a hipótese de que haviam surgido primeiro.

A mesma abordagem ainda sugeriu que os crocodilos estão mais intimamente relacionados às aves do que as tartarugas – outro ponto de muito debate da Ciência. 

Sobre a razão pela qual os outros estudos feitos anteriormente tenham chegado a resultados tão opostos, a equipe argumenta que isso possa ter a ver com o que chamam de “genes fortemente opinantes”, considerados raros e com a capacidade de interferir em resultados estatísticos.

É importante ressaltar que, embora forneça uma nova hipótese sobre um debate de longa data, os resultados do estudo não serão a última palavra sobre o caso. Contudo, Rokas espera que as descobertas ajudem a evitar que futuros estudos sobre a árvore genealógica dos animais sejam escalonados de forma errada. 

“Acreditamos que nossa abordagem possa ajudar a resolver muitas dessas controvérsias de longa data e elevar o jogo de reconstrução filogenética a um novo nível”, concluiu.

Fonte: Science Alert Fotos: Reprodução / Wikimedia 

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