“Lâmpada de lava” gigantesca no interior da Terra pode ser a responsável pelo campo magnético do planeta

de Julia Moretto 0

Se você pudesse voltar no tempo 41.000 anos até a última era glacial, sua bússola apontaria para o sul em vez do norte. Isso aconteceria porque o campo magnético da Terra foi invertido. 

Estas reversões aconteceram repetidamente pela história do planeta, às vezes durando centenas de milhares de anos. Sabemos disso pela forma como afetam a formação de minerais magnéticos.  

Pesquisadores descobriram que as regiões no topo do núcleo da Terra poderiam se comportar como lâmpadas de lava gigantes, com manchas de rocha periodicamente subindo e descendo profundamente no interior de nosso planeta. Isso pode afetar seu campo magnético e fazer com que ele vire.

Essa descoberta só foi possível porque os cientistas estavam estudando os sinais de alguns dos terremotos mais destrutivos do mundo. Cerca de 3.000 km abaixo dos nossos pés – 270 vezes mais profundo do que a parte mais profunda do oceano –está o início do núcleo da Terra, uma esfera líquida de ferro fundido. Neste limite entre o núcleo e o manto rochoso, a temperatura é de quase 4.000° C, semelhante à superfície de uma estrela, com uma pressão de mais de 1,3 milhão de vezes que na superfície da Terra.

No lado do manto desta fronteira, a rocha sólida flui gradualmente ao longo de milhões de anos, conduzindo as placas que fazem com que os continentes se movam e mudem de forma. No lado do núcleo, o ferro magnético fluido gira vigorosamente, criando e sustentando o campo magnético da Terram que protege o planeta da radiação do Espaço que, de outra forma, destruiria nossa atmosfera. 

Devido à distância subterrânea, a maneira principal para estudar a fronteira do núcleo é olhando os sinais sísmicos gerados por terremotos. Usando informações sobre a forma e velocidade das ondas sísmicas, é possível descobrir qual a parte do planeta que eles percorreram para chegar até os dias de hoje.

Depois de um terremoto particularmente grande, é possível medir essas oscilações em lugares diferentes e analisar a estrutura que varia dentro do planeta. Desta forma, sabemos que existem duas grandes regiões no topo do núcleo onde as ondas sísmicas viajam mais lentamente do que nas áreas circundantes.

Cada região é tão grande que seria 100 vezes mais alta que o Monte Everest se estivesse na superfície do planeta. Essas regiões, chamadas grandes províncias de baixa velocidade ou “blobs“, têm um impacto significativo na dinâmica do manto. Elas também influenciam como o núcleo esfria, alterando o fluxo no núcleo externo.

Vários terremotos particularmente destrutivos ao longo das últimas décadas nos permitiram medir um tipo especial de oscilações sísmicas que viajam ao longo do limite do núcleo com omanto, conhecido como modos de Stoneley. Uma pesquisa sobre esses modos mostra que as duas bolhas no topo do núcleo têm uma menor densidade em relação ao material circundante. Isso sugere que o material está ativamente subindo para a superfície.

Nova explicação

Essas regiões podem ser menos densas simplesmente porque estão mais quentes. Mas uma alternativa interessante é que a composição química dessas partes do manto os leva a se comportar como as bolhas em uma lâmpada de lava. Isto significaria que se aquecem e levantam periodicamente para a superfície, antes de resfriarem e espirrarem para baixo, no núcleo.

Tal comportamento mudaria a maneira pela qual o calor é extraído da superfície do núcleo ao longo de milhões de anos. E isso poderia explicar por que o campo magnético da Terra às vezes muda. 

O fato de o campo ter mudado tantas vezes na história da Terra sugere que a estrutura interna que conhecemos hoje também pode ter mudado. Usando mais dados das oscilações da Terra para estudar sua topografia, seremos capazes de produzir mapas mais detalhados do núcleo que nos darão uma compreensão muito melhor do que está acontecendo abaixo de nossos pés. Artigo originalmente publicado pela The Conversation.

Fonte: Science Alert Fotos de capa: Reprodução / Science Alert

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