Hospital que funciona desde o século 18 nos EUA realizava experiências macabras e torturava crianças

de Merelyn Cerqueira 0

Chamado de Bellevue Hospital, o centro médico com mais de 600 leitos – alguns utilizados por pacientes famosos, como Sylvia Plath e John Lennon – está localizado no lado leste da cidade de Nova York e abriu suas portas pela primeira vez em 1736. Ao logo dos anos, ele se tornou o lar de pacientes que sofriam de doenças mortais e infecciosas, bem como mentais e viciosas. A princípio, ficou conhecido por realizar experiências “à Frankenstein”, em nome da “Ciência”, em pacientes não anestesiados. Também praticava terapias de eletrochoque em crianças e milhares de biopsias hepáticas feitas desnecessariamente em pacientes alcoólatras.

Em uma reportagem exclusiva, o jornal Daily Mail buscou informações no livro de David Oshinsky, “Bellevue: Three Centuries of Medicine and Mayhem at America’s Most Storied Hospital”, para contar a história do local.

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Quando abriu suas portas, o Bellevue começou como uma casa para tratamentos de pragas ou pessoas afetadas por doenças como cólera e febre amarela, bem como vítimas de mutilações e pacientes mentais. Era conhecido também por conduzir experiências inescrupulosas em nome da Ciência, que incluíam reconstruções faciais precoces, feitas a partir do dedo médio de uma pessoa, injeções de tabaco quente em grávidas, para tratar cólera, ou em homens, para curar circuncisões.

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Com imigrantes chegando de todo o mundo em busca de uma nova vida longe da fome, doenças, pestes e doenças se espelhavam pelas ruas, devastando grande parte da população à época. Como os mais pobres não podiam pagar médicos particulares, recorriam ao atendimento público. O Hospital Bellevue raramente virava as costas para seus pacientes, e isso explica o porquê de quase todas as doenças terem passado por ali – incluindo AIDS e Ebola, mais recentemente.

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Anteriormente considerado um laboratório de pesquisa de ponta nos EUA, Bellevue era um verdadeiro campo de treinamento para os interessados em Medicina e Ciência, tornando-se um verdadeiro rito de passagem para jovens médicos e estudantes que precisavam dissecar corpos para estudos.

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Em seu livro, Oshinsky conta que certa vez, em 1788, enquanto crianças brincavam perto de um dos edifícios do hospital, acabaram vendo um cadáver pendurado em uma das janelas do segundo andar, o que fez com os pais delas – e outros – invadissem o lugar. “Na sala de anatomia foram encontrados três frescos [cadáveres], um fervendo, outros dois cortados com certas partes do sexo pendurados em uma posição brutal”, escreveu.

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Após o incidente, o prefeito da cidade interveio e fez com que os responsáveis fossem presos. Mas, 60 anos depois, “as escolas de medicina de Nova York ainda contavam com ladrões de sepulturas para atender às ‘necessidades anatômicas’”. Superlotado de pacientes refugiados e extremamente doentes, o hospital também sofreu com uma invasão de ratos, que buscavam o que podiam devorar entre as alas, concentrando-se ocasionalmente nos bebês. De acordo com Oshinsky, um visitante relatou ter visto cerca de 40 roedores em uma única banheira durante um incidente que ocorreu em 1860.

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Muitas operações eram realizadas sem o uso de anestesia. Ao invés disso, aos pacientes eram dadas doses de uísque, e depois, colocavam chumaços de algodão em suas orelhas “para amortecer o som dos instrumentos que cortavam carnes e ossos”. Os cirurgiões confessavam vomitar antes de cada procedimento”, escreveu Oshinsky. “Um, certa vez, comparou seu trabalhado a um enforcamento”.

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Seu livro também conta que a terapia convulsiva envolvendo insulina, descoberta por pesquisadores canadenses na década de 1920, foi realizada pela primeira vez nos EUA em Bellevue. O procedimento envolvia o uso de um estimulante químico, chamado metrazol, conhecido por causar convulsões tão violentas que chegava a fraturar ossos e vértebras de pacientes. O hospital também foi o primeiro do país a usar a terapia de eletrochoque, hoje conhecida como eletroconvulsiva (ECT). Considerada mais vantajosa, uma vez que não causava reações tóxicas ou ossos quebrados, ela, no entanto, mais se assemelhava às “experiências de ficção realizadas pelo Dr. Frankenstein, de Mary Shelley”, de acordo com o escritor.

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Milhares de pacientes foram submetidos à ECT, especialmente crianças. Em 1942, uma médica chamada Dr.ª Lauretta Bender, que cuidava da ala infantil do hospital, empregou com frequência o método em uma centena de crianças, algumas com apenas quatro anos de idade, afirmando ser a última esperança em tratamentos de transtornos médicos graves.

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Ainda, alguns dos 600 leitos disponíveis no hospital foram utilizados por uma longa lista de pacientes famosos, incluindo os músicos Stephen Foster, Lead Belly, o saxofonista Charlie Bird Parker e até mesmo John Lennon e seu assassino, Mark David Chapman. Escritores como William S. Burroughs, Delmore Schwart, Sylvia Plath e Norman Mailer também passaram pelas portas de Bellevue, alguns por motivos menores, enquanto outros por casos de colapso nervoso ou tentativa de assassinato.

Atualmente, os serviços médicos oferecidos pelo Bellevue Hospital são considerados inigualáveis. “Suas clínicas oferecem cuidados de primeira linha, com médicos que são verdadeiros mestres em diagnóstico, tendo visto quase tudo em relação a doenças”, escreveu Oshinsky.

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O que mudou na verdade foi o componente de pesquisa, que hoje já não é mais considerado deslumbrante. Esse título foi transferido ao NYU Langone Medical Center, que recebe financiamento federal e conta com cientistas de ponta. “Enquanto um continua a ser um hospital de ensino de primeira linha, o outro fornece estrutura, continuidade e prestígio acadêmico”.

[ Daily Mail ] [ Fotos: Reprodução / Daily Mail ] 

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