Fungo parasita faz células infectadas se fundirem com as células saudáveis

de Merelyn Cerqueira 0

Javier Martin

Na eterna guerra entre hospedeiros e patógenos, ambos os lados precisam inventar manobras furtivas para ganhar vantagem. O mesmo ocorre com a microsporídia, um fungo parasita conhecido por infectar um grande número de pessoas e causar diarreias. No entanto, até o momento, era um mistério para a Ciência a maneira com que ele infectava as células.

Cientistas descobriram que, ao invés de infectar a célula e passar para uma próxima, o fungo tem um truque para se sair bem. Após invadir as primeiras células, ele força a hospedeira a se fundir com outras vizinhas, permitindo que a infecção seja passada entre elas, célula por célula. Esse comportamento já havia sido observado em vírus e bactérias, mas esta é a primeira vez que organismos eucarióticos parasitas o fazem.

De acordo com a pesquisadora que conduziu o estudo Emily Troemel, “é como se a microsporídia tivesse descoberto que, assim como soldados que lutam uma guerra urbana, é mais fácil e mais seguro passar de casa para casa, entrando em uma adjacente através de uma parede comum, ao invés de fazer isso pela porta da frente de cada casa”, explicou. “Esta é a primeira vez que vimos esse modo de infecção por um patógeno eucariótico, que é um organismo unicelular com um núcleo distinto que contém material genético”.

A descoberta foi feita por meio de observações realizadas em uma lombriga chamada Caenorhabditis elegans, comumente utilizada em pesquisas científicas. Marcaram o RNA da microsporídia com corante fluorescente vermelho e rotularam a membrana celular da lombriga em verde, o que permitiu observar como o parasita se espalha e infecta as células.

A C. elegans é utilizada em pesquisas porque apesar de ser organismo celular primitivo – composto por apenas 959 células já mapeadas – ela compartilha muitas das características da biologia humana.

Os cientistas infectaram o intestino da lombriga, que é composto por apenas 20 células, com os microsporídios. Assim, eles descobriram que, após infectar a primeira célula, em um prazo de dois dias o parasita já tinha se fundido e replicado em todas as outras. A experiência em seguida foi replicada em uma única célula muscular, e observaram que ocorreu exatamente a mesma coisa.

O fato de que o mesmo método tenha sido observado em dois tipos de tecidos diferentes quer dizer que o modo de infecção é dominado pelo fungo. Portanto, é bem provável que isso também ocorra no momento em que eles invadem nosso organismo. O estudo foi publicado na revista Nature Microbiology.

[ IFLS ] [ Foto: Reprodução / Javier Martin via Wikipédia ]

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