Excesso de higiene íntima pode colocar a saúde das mulheres em risco, diz estudo

de Merelyn Cerqueira 0

De acordo com um estudo realizado nos Estados Unidos, as mulheres que realizam higiene em excesso são duas vezes mais propensas a desenvolveram câncer de ovário. Estudos anteriores já associaram a lavagem vaginal, convencional ou com o auxílio de duchas, com infecções fúngicas, doenças inflamatórias pélvicas, gravidez ectópica, redução da fertilidade, HIV e outras doenças transmissíveis.

O estudo mais recente, publicado na revista Epidemiology, foi realizado pelo Instituto Nacional de Estudos Ambientais e Ciências da Saúde, e foi o primeiro a associar o câncer dos ovários com um procedimento praticado por milhões de mulheres em todo o mundo.

Enquanto a maioria dos ginecologistas recomenda fortemente que as mulheres não utilizem duchas, muitas mulheres ainda utilizam porque acreditam na falsa ideia de que o hábito traga benefícios para a saúde, como o aumento da higiene”, disse a professora de epidemiologia, Joelle Brown, da Universidade da Califórnia, que não estava envolvida no estudo citado.

O câncer de ovário é conhecido por ser um assassino silencioso, muitas vezes as mulheres não identificam quaisquer sintomas até que a doença esteja num estágio avançado. Estima-se que, somente nos EUA, cerca de 20 mil mulheres sejam diagnosticadas com esse tipo de câncer todos os anos – e 14.500 delas acabam perdendo suas vidas na luta contra a doença, segundo dados do Centers for Disease Control and Prevention (CDC).

A nova análise feita pelos cientistas acompanhou mais de 41 mil mulheres nos EUA e em Porto Rico, desde 2003. As participantes tinham entre 35 e 74 anos e cada uma delas tinha uma irmã que havia sido diagnosticada com câncer de mama. No início do estudo nenhuma dessas mulheres foi diagnosticada com cânceres de mama ou ovário. No entanto, em julho de 2014, os pesquisadores notaram que 154 delas desenvolveram a condição nos ovários.

As mulheres que relataram uso de duchas durante o ano anterior ao estudo mostraram riscos dobrados do desenvolvimento de câncer, de acordo com os pesquisadores. A ligação entre as duchas e a condição ficou ainda mais forte quando os autores analisaram as mulheres que não tinham os genes de câncer de mama na família.

O canal vaginal é capaz de se limpar naturalmente, sem a necessidade de produtos ou outras misturas, itens que interferem no equilíbrio natural da região. O uso de duchas pode causar o crescimento excessivo de bactérias nocivas e infecções fúngicas, bem como empurrar alguns desses microrganismos para dentro do útero, trompas e ovários, de acordo com o Departamento da Saúde da Mulher, no U.S. Department of Health and Human Services (HHS).

Brown, que liderou um estudo publicado recentemente na revista PLOS, analisou as motivações por trás do hábito de utilização de duchas. Segundo ela, o método de limpeza já era praticado em 1.500 a.C., quando eram recomendadas pelos papiros lavagens intravaginais com alho e vinho para tratar distúrbios menstruais.

De acordo com ela, as mulheres, muitas vezes, aprendem esse tipo de hábito com as mães. Elas o fazem porque acreditam ser parte necessária de uma boa higiene pessoal na preparação para o sexo, após o sexo ou a pedido de seus parceiros.

[ Daily Mail ] [ Foto: Reprodução / Nedjaalves ]

Jornal Ciência