Em Portugal há uma vila que incentiva crianças a fumarem cigarros em dois dias do ano

de Merelyn Cerqueira 0

Todos os dias 5 e 6 de janeiro, a vila portuguesa do Vale do Salgueiro, em Mirandela, celebra a tradicional Epifania, um festival que envolve tradições benignas como comer bolo e cantar, além de outras mais estranhas, como incentivar crianças a darem tragos em cigarros.

A prática é defendida pelos locais, que alegam que há séculos faz parte das celebrações da Epifania e do solstício de inverno. No entanto, ninguém sabe exatamente o que as crianças fumantes simbolizam.

Em Portugal, assim como no Brasil, a idade legal para comprar cigarros é de 18 anos. Porém, não há nenhuma lei que impeça aos pais de oferecerem cigarros aos filhos.

Apesar da crítica e indignação do restante do mundo, o costume é bem defendido pelos moradores da região.

“Não posso explicar o porquê. Eu não vejo nenhum dano nisso porque eles realmente não fumam, eles inalam e imediatamente expiram, é claro. E é só nestes dias, hoje e amanhã. Eles nunca pedem cigarros novamente”, argumentou Guilhermina Mateus, 35 anos, proprietária de uma cafeteria na região, à Associated Press.

Uma rádio de Portugal, a Brigantia, entrevistou alguns locais a respeito da tradição, incluindo algumas crianças, tomo Tomás, de seis anos, que fuma durante a Epifania. Além dele, sua prima, Eduarda, também de seis anos, admitiu praticar o hábito, embora tenha acrescentado que fumar “machuca os pulmões”.

No entanto, por ser feito apenas por dois dias do ano, as pessoas não acreditam que possam ter riscos reais.

Adoro que meus netos fumem nos dias 5 e 6 de janeiro, porque eles não têm mais o direito de fumar o resto do ano”, disse a avó das duas crianças, que são filhas de Rosa Hermenegilda. Já para a mãe, os filhos não correm o risco de se tornarem viciados.

Eduardo Augusto, 88 anos, e avô das duas crianças, disse à rádio que também fumou na Epifania quando era criança. No entanto, ele alega que não foi por causa disso que adquiriu o vício ao tabagismo. Ele afirmou ainda não saber há quantos anos a tradição existe, embora tenha lembranças de ter ouvido sobre ela do próprio avô, o que significa que pode ter centenas de anos.

A festividade já foi tema de um livro feito pelo escritor e pesquisador José Ribeirinha, que reportou sobre as origens desconhecidas da festa, afirmando que ela pode ter relação com a celebração do renascimento anual da natureza.

Ele acrescentou que o Vale do Salgueiro está localizado em uma região que pratica muitas celebrações pagãs e romanas antigas e, durante o período do solstício de inverno, os aldeões se libertam para fazer coisas que normalmente não fariam no restante do ano.

Para Ribeirinha, a localização remota da aldeia ajudou a manter viva a tradição, uma vez que está localizado a 450 km a nordeste da capital, Lisboa, na região de Trás-os-Montes. Segundo ele, o Vale “sempre foi o mais distante de Lisboa, e o mais esquecido”.

Fonte: Oddity Central Fotos: Reprodução / Oddity Central

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