Desodorantes e antitranspirantes estão alterando características da sua pele de forma silenciosa

de Bruno Rizzato 0

Pesquisadores dos EUA descobriram que a utilização de desodorantes antitranspirantes afeta significativamente a pele das pessoas, alterando o tipo e a quantidade de vida bacteriana no microbioma das axilas.

Embora não haja nenhuma evidência de que isto seja necessariamente prejudicial para a saúde humana, os pesquisadores dizem que é possível que estes micróbios naturais existam por um propósito benéfico. Assim, isso poderia significar que usar estes produtos para higiene pessoal pode ser um risco à saúde.

“Milhares de espécies de bactérias têm o potencial de viver na pele humana, em particular, na axila. Descobrir espécies que vivem particularmente em um tipo de axila tem sido difícil, mas nós descobrimos que um dos maiores determinantes pode ser o uso de desodorantes comuns ou antitranspirantes”, disse o ecologista Rob Dunn, da North Carolina State University. 

Para avaliar o impacto microbiano do uso de desodorantes e antitranspirantes, os pesquisadores estudaram 17 participantes ao longo de oito dias. O grupo era composto por três categorias: sete pessoas que utilizavam antitranspirante regularmente, reduzindo o suor; cinco participantes que utilizavam desodorantes, que muitas vezes têm etanol ou outros antimicrobianos; e cinco pessoas que não usaram nenhum tipo de desodorante. Amostras de suor das axilas eram coletadas diariamente para o experimento.

No início do estudo, a rotina de higiene dos participantes foi normal, mas em determinada etapa nenhum antitranspirante ou desodorante foi utilizado. Nos dois últimos dias, todos os participantes usaram antitranspirante.

“Descobrimos que, no primeiro dia, as pessoas que utilizam antitranspirante tinham menos micróbios em suas amostras do que as pessoas que não usam o produto, mas não havia muita variabilidade. Isso dificulta conclusões definitivas. Além disso, as pessoas que usaram o desodorante comum tinham mais micróbios, em média, do que aqueles que não utilizavam o produto”, disse a pesquisadora Julie Horvath, da North Carolina Central University.

Por seis dias, quando todos os participantes não usaram os produtos, a quantidade de bactérias em suas axilas ficou bastante próxima, mas quando todo o grupo começou a usar o antitranspirante, nos últimos dois dias, pesquisadores descobriram uma redução drástica do crescimento microbiano. Isto sugere que, enquanto o uso de antitranspirante pareça diminuir as populações microbianas, o desodorante comum realmente pode aumentá-la.

Usando o sequenciamento genético para analisar composição e variedade das bactérias no suor dos participantes quando nenhum produto foi utilizado, os pesquisadores descobriram que o antitranspirante, em particular, produz diferentes populações microbianas nas axilas das pessoas.

Aqueles que normalmente não usam desodorantes ou antitranspirantes tenham exibido altos níveis de Corynebacterium (62% dos micróbios encontrados) – um gênero de bactérias bacilares pequenas e gram-positivas da família Corynebacteriaceae, parcialmente responsável por causar o odor de corpo, mas que pode ajudar a nos defender de patógenos – e baixos níveis de Staphylococcaceae (21%) – uma família de bactérias que inclui o gênero Staphylococcus, que contém um patógeno humano clinicamente importante. Os dados foram quase inversos em usuários de antitranspirantes (com 14 % e 60% respectivamente).

Os produtos que utilizamos podem alterar de forma significativa a composição destas bactérias no microbioma da axila, isso poderia ter consequências significativas na saúde, segundo o relato dos pesquisadores, na PeerJ.

Outra pesquisa recente, feita pelos mesmos cientistas, comparou micróbios da axila de humanos e primatas não-humanos, descobrindo que os micróbios têm evoluído ao longo do tempo em conjunto com as espécies em que vivem, tendo maiores resquícios de micróbios fecais e do solo nos primatas não-humanos. “Talvez a diversidade de micróbios fecais e de solo na pele dos primatas não-humanos tenha algum benefício que nós ainda não compreendemos”, concluiu Horvath.

Fonte: Science Alert Foto: Reprodução / Max Pixel

Jornal Ciência