Deixar crianças muitas horas nos smartphones não é prejudicial, diz novo estudo

de Merelyn Cerqueira 0

O uso de telas digitais é atualmente um elemento básico da vida de qualquer ser humano contemporâneo, quer estejamos falando de smartphones, laptops ou TVs.

Neste ponto, muitos pediatras e cientistas já expressaram suas preocupações em relação a exposição prolongada e o bem-estar das pessoas, especialmente crianças.

No entanto, um novo estudo feito pela Universidade de Oxford sugeriu que a orientação atual que os pais têm em relação ao gerenciamento do tempo de telas pelas crianças pode ser exageradamente restritiva, segundo informações do site oficial da universidade.

No início do ano, pesquisadores publicaram um documento que falava a respeito das diretrizes de dispositivos digitais para crianças, propondo que uma quantidade moderada de tempo limitada (período “Goldilocks”). A ideia, basicamente, era aumentar o bem-estar dos pequenos.

No entanto, em um novo estudo publicado na revista Child Development, pesquisadores do Instituto de Internet de Oxford e da Universidade de Cardiff realizaram um experimento similar, buscando analisar o impacto das telas em crianças de dois a cinco anos de idade. Para isso, a equipe considerou as diretrizes recomendadas pela Academia Americana de Pediatria (AAP), que propõe um limite de uma a duas horas de telas por dia.

Assim, usando dados de cerca de 20.000 entrevistas feitas por meio de telefone com os pais das crianças, os autores descobriam uma série de achados interessantes que sugerem que limitar o uso de dispositivos digitais para crianças não é necessariamente benéfico para o bem-estar delas. A relação foi medida em termos de apego ao cuidador, impacto na resiliência emocional, curiosidade e efeitos positivos.

Ainda, a equipe não encontrou correlações consistentes entre os limites de uso digital recomendados em 2010 ou revisados ​​em 2016. Além disso, as crianças cujo uso de tecnologia era limitado em acordo com as orientações da AAP, apresentaram níveis de resiliência ligeiramente maiores, o que foi equilibrado por níveis mais baixos de afeto positivo.

Estudos diferentes indicaram resultados semelhantes aos relatados no estudo em questão, de que o uso moderado de tela acima dos limites recomendados pode realmente estar vinculado a níveis ligeiramente mais elevados de bem-estar.

“Tomados em conjunto, nossos achados sugerem que há pouco ou nenhum apoio para a teoria de que o uso de tela digital, por si só, é ruim para o bem-estar psicológico das crianças pequenas”, disse o principal autor do estudo, Dr. Andrew Pryzbylski, Do Instituto de Internet de Oxford.

“Em todo caso, nossas descobertas sugerem o contexto familiar mais amplo, como os pais estabelecendo regras sobre o tempo da tela, e se eles estão ativamente envolvidos na exploração do mundo digital juntos, são mais importantes do que o tempo da tela em si. Pesquisas futuras devem se concentrar em como o uso de dispositivos digitais junto com pais ou cuidadores, quando transformado em um tempo social, pode afetar o bem-estar psicológico das crianças, a curiosidade e os vínculos com o cuidador envolvido”.

Para o coautor do estudo, Dr. Netta Weinstein, professor sênior em psicologia na Universidade de Cardiff, “dado o fato de que não podemos colocar de volta o gênio digital na garrafa, é incumbência dos pesquisadores realizar pesquisas mais rigorosas e atualizadas que identifiquem mecanismos pela medida em que a exposição no tempo de tela pode afetar as crianças”.

“Para sermos mais robustos, as recomendações atuais podem precisar ser reavaliadas e ter uma consideração adicional antes que possamos recomendar com confiança que esses limites de tempo de tela digital sejam bons para a saúde mental e o bem-estar das crianças”, acrescentou Pryzbylski.

Fonte: Universidade de Oxford Foto: Reprodução / Flickr

Jornal Ciência