Como uma pessoa vive sob o rótulo de “esquizofrênica”?

de Merelyn Cerqueira 0

Sendo carregado de conotações, o rótulo de “esquizofrênico” comumente é associado à loucura, agressividade e estranheza, e é por isso que as pessoas evitam ao máximo serem intituladas como tal, de acordo com informações da Research Digest.

 

Em um estudo realizado pela psicóloga clínica Lorna Howe e colegas, foram entrevistados sete participantes, três homens e quatro mulheres, com idade média de 44 anos, todos diagnosticados com esquizofrenia entre os 6 e 17 anos e sob os cuidados de uma equipe de saúde mental da NHS na Inglaterra.

 

Os pesquisadores os entrevistaram em sessões de até 90 minutos, e transcreveram o conteúdo tentando encontrar pontos de contato nas histórias, em um processo conhecido como fenomenológica interpretativa. As comparações entre as análises permitiram concluir que os participantes de fato precisavam de terapia, embora tenham-na evitado devido ao estigma que vinha junto à condição.

 

Após receberem o diagnóstico, os participantes afirmaram que ainda tentaram escondê-lo de outras pessoas, uma vez que, segundo eles, a mídia executa um papel fundamental na relação entre a esquizofrenia e violência. As pessoas estão sempre com medo de falar comigo sobre isso ou mencionar a palavra”, disse Carol, uma das participantes. “É considerada uma palavra feia e associada há algo muito ruim”.

 

Ainda, os participantes comentaram sobre a falta de conhecimento relacionada à doença pelas pessoas em geral. Enquanto que os médicos veem o problema como algo biológico, um desequilíbrio químico. Tudo o que minha mãe disse foi: eu falei que você era louca”, disse Janet, outra participante. No entanto, a ênfase no aspecto biológico da condição era vista com desesperança, e desencorajava os pacientes a receber tratamentos.

 

Lidando com o estigma

Sobre como lidavam com a infâmia acompanhada à condição, eles afirmaram que apenas evitam contar sobre ela, e que apesar do diagnóstico, se consideram pessoas normais. Ninguém gosta de ser rejeitado, então eu simplesmente não quero me colocar nessa posição”, disse Janet. Quando as pessoas te tratam com receio, por causa de sua doença, você sente vontade de dizer: ‘Olhe para mim, eu não sou tão ruim assim, não é mesmo?”, disse Ben, outro participante.

 

Aceitação do diagnóstico

Neste tema final das entrevistas, os participantes tiveram de descrever como receber rótulos havia contribuído para uma melhor compreensão do problema e início de um tratamento. Foi um alívio saber que tinha esquizofrenia e que era algo tratável”, disse David. “Consegui me aceitar melhor depois de aceitar minha condição”. Enquanto a maioria partilhou a mesma opinião de David, Janet, por outro lado, admite ter problemas mentais, mas não aceita a ideia de que possa ter esquizofrenia.

 

O que é a esquizofrenia?

Trata-se de um transtorno psiquiátrico complexo, caracterizado por uma alteração no cérebro que compromete o julgamento correto de realidade, produção de pensamentos simbólicos e abstratos e respostas emocionais mais complexas. Embora comumente seja associada a um distúrbio de múltiplas personalidades – o que não é – é uma doença crônica que exige tratamento para toda a vida.

 

Quando não tratada, geralmente ocorre uma piora significativa do quadro. Por isso, é necessário que as pessoas próximas do paciente não façam associações pejorativas ao problema e tampouco o chamem de “loucura”, uma vez que isso o impede de procurar ajuda.

[ Research Digest ] [ Fotos: Reprodução / Pixabay ]

Jornal Ciência