Cientistas sugerem que “misterioso” ciclo de 14 anos esteja controlando nossas palavras há séculos

de Otto Valverde 0

Recentemente, pesquisadores no Reino Unido analisaram vários séculos de literatura e descobriram uma tendência estranha em padrões da linguagem inglesa. De acordo com eles, as palavras que usamos tendem a surgir e cair em esquecimento em um ciclo que dura cerca de 14 anos.

Para o estudo, scripts foram executados em computadores em busca de padrões que se estendiam desde o ano de 1700, através do banco de dados de uma ferramenta do Google chamada Ngram Viewer, que monitora o uso da linguagem em mais de 4,5 milhões de livros digitalizados. Os cientistas identificaram uma oscilação estranha em 5.630 substantivos comuns. A descoberta não só mostra como os escritores e a população em geral usam as palavras, como também evidenciou os tópicos que escolhemos para discutir, de acordo com informações da Science Alert.

Segundo o pesquisador Marcelo Montemurro, da Universidade de Manchester, é muito difícil imaginar um fenômeno aleatório que possa formar tal padrão. “Supondo que esses padrões reflitam algumas dinâmicas culturais, espero que isso se desenvolva em uma melhor compreensão de por que mudamos os tópicos que discutimos”, disse. “Podemos aprender por que os escritores se cansam da mesma coisa e escolhem algo novo”.  

De acordo com o estudo, publicado em Palgrave Communications, um padrão surpreendentemente consistente de 14 anos com palavras de uso generalizado entrando e caindo em desuso foi encontrado – juntamente com ciclos mais recentes que duraram cerca de um ano ou dois.

Foi determinado também que algumas palavras se destacam mais entre tais ciclos. Por exemplo, as relacionadas à monarquia – como “rei”, “rainha” e “príncipe” – parecem estar num pico de uso, o que significa que em breve poderão cair em desuso. Diferente disso, uma série de termos científicos – como “astrônomo”, “matemático” e “eclipse” – em breve poderão entrar em recuperação, uma vez que atualmente se encontram em desuso.

Ainda, de acordo com as análises, o fenômeno ocorre também com uma série de verbos, embora não na mesma frequência que os substantivos. Padrões semelhantes foram encontrados no idioma francês, alemão, italiano, russo e espanhol, o que significa que não é exclusivo para o inglês.

O estudo sugeriu que as palavras têm um certo “pico”, o que faz com que sejam mais utilizadas antes de atingirem um nível de saturação, quando começam a ser poupadas e substituídas por outras alternativas. Embora os cientistas ainda não saibam exatamente o que está causando o fenômeno, eles se arriscaram a fazer suposições. “Esperamos que esse comportamento esteja relacionado às mudanças no ambiente cultural que, por sua vez, desperta o foco temático dos escritores representados no banco de dados do Google”, escrevem no artigo.

Para o cientista Mark Pagel, da Universidade de Reading, no Reino Unido, que não esteve envolvido no estudo, avaliar fatores culturais que possam afetar isso é algo fascinante. Mas, ele considera que devemos esperar por algumas periodicidades de flutuações aleatórias. “De vez em quando, uma palavra como ‘maçã’ vai ser escrita mais vezes, e sua popularidade vai subir”, disse. “Mas então ela cairá em desuso para uma média de longo prazo”.

Embora saibamos que a linguagem está em constante evolução, ferramentas, como o Google Ngram Viewer, dão um acesso sem precedentes ao uso de palavras e tendências de linguagem através dos séculos. Disponível para o público em geral, embora não em português, você mesmo pode avaliar o uso de suas palavras favoritas através deste link:

Ngram Viewer

[ Science Alert ] [ Foto: Reprodução / Science Alert ]

Jornal Ciência