Cientistas podem finalmente ter descoberto o que causa o Alzheimer e como parar a doença

de Merelyn Cerqueira 0

Após décadas de tentativas frustradas, cientistas podem finalmente ter resolvido um dos maiores mistérios da medicina: “o que causa o Alzheimer?”.

Um estudo recente mostrou através de evidências convincentes que a doença é causada por uma bactéria envolvida na periodontite, uma doença que afeta as gengivas.

A descoberta poderia resultar na criação de tratamentos eficazes ou até mesmo uma vacina, segundo informações da New Scientist.

A doença de Alzheimer se tornou a quinta maior causa de morte no mundo. Embora suas causas sejam desconhecidas, ela resulta na perda progressiva da memória e função cognitiva, sendo devastadora tanto para as vítimas quanto para os entes queridos.

A condição geralmente envolve o acúmulo de dois tipos de proteínas – beta-amiloide e TAU – no cérebro.

Considerando que estes são alguns dos primeiros sinais físicos da doença, desde 1984 a principal hipótese sobre sua causa é o controle defeituoso de tais proteínas, especialmente a beta-amiloide, que se acumula para formar grandes placas no cérebro.

Sabendo disso, os cientistas há muito têm focado nesta abordagem para descobrir a causa e uma cura para a doença. Somente em 2018, os institutos nacionais de saúde dos EUA gastaram cerca de US$ 1,9 bilhão com a pesquisa sobre Alzheimer. No entanto, de acordo com um estudo recente, a taxa de falha no desenvolvimento de medicamentos para Alzheimer foi de 99%.

A falta de resultados foi agravada pela descoberta de que as pessoas – incluindo algumas vivendo a fase dos 90 anos e com memórias excepcionais – podem ter o mesmo acúmulo de placas sem ter demência – o que deixou cientistas de todo mundo ainda mais confusos.

Em uma revisão da pesquisa feita por Bryce Vissel, da Universidade de Tecnologia de Sydney, na Austrália, concluiu-se que não há dados suficientes para sugerir que “a proteína beta-amiloide tem um papel central ou único no Alzheimer. As bactérias no cérebro não são o resultado de Alzheimer, mas podem ser a causa”, acrescentou.

De fato, um estudo feito em 2016 mostrou que as proteínas beta-amiloides parecem funcionar como uma defesa contra tais bactérias.

Estudos subsequentes verificaram a presença das bactérias no cérebro de pessoas que tinham Alzheimer quando estavam vivas. Mas, não ficou claro se eram as bactérias as causadoras da doença ou se apenas foram capazes de penetrar o cérebro já danificado pela doença.

Bactéria Porphyromonas gingivalis. Foto: Reprodução / A. Dowsett, Public Health England/Science Photo Library

Desde então, diversas equipes de pesquisadores, incluindo a empresa farmacêutica Cortexyme, têm investigado a bactéria Porphyromonas gingivalis, responsável pela periodontite, como um fator de risco para o Alzheimer.

Até o momento, descobriu-se que a bactéria pode invadir e inflamar as regiões do cérebro afetadas pela doença; causar infecções nas gengivas e piorar os sintomas em camundongos geneticamente modificados para ter doença de Alzheimer; causar inflamação cerebral, dano neural e a promover a formação de placas beta-amiloides semelhantes a Alzheimer em camundongos saudáveis.

Pesquisadores da farmacêutica Cortexyme e de várias universidades, relataram ter encontrado duas enzimas tóxicas que a P. gingivalis usa para se alimentar de tecido humano em até 96% das 54 amostras de cérebros com Alzheimer tiradas do hipocampo – uma área do cérebro importante para a memória.

Essas enzimas degradadoras de proteínas foram encontradas em níveis mais altos no tecido cerebral, que também tinham mais fragmentos da proteína TAU e, portanto, maior declínio cognitivo. A equipe também encontrou o mesmo material genético no córtex cerebral em todos os três cérebros com Alzheimer que avaliaram.

Ao analisar amostras de cérebros de pessoas sem Alzheimer, os pesquisadores perceberam que alguns tinham acumulações da bactéria P. gingivalis e proteínas, mas em níveis baixos. Então, como já sabiam que a beta-amiloide e a TAU podem se acumular no cérebro por 10 ou 20 anos antes dos sintomas de Alzheimer começarem, isso mostrou a equipe que a bactéria não entra no cérebro como resultado do Alzheimer, mas que finalmente poderia ser ela a grande responsável por provocar a doença.

Ainda, quando a equipe desenvolveu a doença da gengiva em camundongos, ela levou a infecção cerebral, produção de beta-amiloide, emaranhados de proteína TAU e danos no cérebro nas regiões e nervos normalmente afetados pela doença de Alzheimer. Isso, segundo eles, sugere uma relação de causalidade muito forte.

Em resposta às novas descobertas, David Reynolds, membro de uma instituição de caridade de Alzheimer no Reino Unido, disse duvidar que a P. gingivalis cause a doença de Alzheimer. Segundo ele, há uma série de evidências que mostram que os genes de uma pessoa desempenham um papel crucial na doença.

“Fortes evidências genéticas indicam que outros fatores além das infecções bacterianas são centrais para o desenvolvimento de Alzheimer, então essas novas descobertas precisam ser feitas no contexto desta pesquisa existente“, disse ele em um comunicado.

De fato, embora muitas pessoas tenham a bactéria P. gingivalis em suas bocas, apenas algumas desenvolvem Alzheimer. Em partes, isso pode ocorrer porque pode levar até décadas antes que os primeiros sintomas do Alzheimer apareçam.

Segundo Casey Lynch, da farmacêutica Cortexyme, as descobertas de sua equipe são uma hipótese universal sobre o agente causador“, e explica totalmente as causas do Alzheimer. Vissel, da Universidade de Tecnologia de Sydney, por outro lado, adverte que a doença é muito mais complexa do que parece. “É improvável que a resposta seja uma causa única. Precisamos manter os olhos abertos”.

Se esta nova hipótese for confirmada por outros cientistas, poderemos desenvolver tratamentos eficazes contra a doença atacando a bactéria P. gingivalis antes que gere respostas defensivas ou invada o cérebro.

Fonte: New Scientist Fotos: Reprodução / New Scientist

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