Cientistas finalmente descobrem por que recebemos apenas as mitocôndrias de nossas mães

de Merelyn Cerqueira 0

Você já deve ter ouvido bastante de seus parentes, amigos ou conhecidos sobre como é parecido com sua mãe ou pai. Mas a verdade é que, enquanto você pode, de fato, ter puxado os olhos do seu pai, a maioria dos seus genes são oriundos de sua mãe.

Este é simplesmente o caso para todas as pessoas na Terra, e a razão disso é única: as minúsculas organelas que vivem dentro das células, as chamadas mitocôndrias, são todas provenientes do lado materno, e, por décadas, os cientistas não sabiam explicar a razão disso.

No entanto, recentemente, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Colorado Boulder, nos Estados Unidos, em um estudo publicado pela revista Science, disse ter encontrado uma pista que pode explicar a estranha falta de genes paternos. “Este é um mistério de longa data na biologia – por que em muitos organismos, [somente] a mitocôndrias maternas são herdadas?”, disse a geneticista e pesquisadora Ding Xue à Science News.

As mitocôndrias são essenciais para vida. Elas agem como verdadeiras fábricas de energia para as células e fazem isso convertendo os alimentos que em energia que as células precisam para funcionar. No entanto, elas também são consideradas “estranhas”. Conforme explicou a ecologista Madeleine Beekman, da Universidade de Sydney, Austrália, há cerca de 1,5 ou 2 bilhões de anos, elas eram organismos de vida livre. Logo, elas costumavam ter vida própria.

Por causa de seu histórico evolutivo, como bactérias de vida livre, a mitocôndria acabou criando o seu próprio genoma – chamado DNA mitocondrial ou mtDNA”, disse Beekman. “Cada célula contém muitas cópias de mtDNA, conforme as mitocôndrias se replicam ali livremente”.

Foto: P. Zhou et. al
Foto: P. Zhou et. al

Assim, Xue e sua equipe observaram o comportamento dessas mitocôndrias, transferidas por meio do esperma de um verme chamado Caenorhabditis elegans, enviado à um óvulo fertilizado. Logo, eles observaram as mitocôndrias se separarem no interior e se tornarem inúteis ao serem transferidas para o óvulo. Uma proteína encontrada no esperma, chamada CPS-6, parece ter sido a responsável por esse retalhamento.

Após esse processo, um outro chamado autofagia, que limpa as partes das células que estão degradas abrindo caminhos para mais novas e saudáveis, começa. Assim, ele ajuda a transportar os restos das mitocôndrias paternas para fora das células embrionárias.

A equipe descobriu que quando o mtDNA fica preso aos embriões mais tempo do que deveria, tornam-se mais propensos a morte, o que sugere que a proteína CPS-6 e a autofagia, trabalham em conjunto para assegurar a viabilidade de um embrião.

No entanto, eles não estão inteiramente certos do porque isso acontece, uma das hipóteses apresentadas por Xue, é que ele carrega o potencial para mais mutações do que as mitocôndrias maternas. Dessa forma, em termos evolutivos, é mais vantajoso acabar com eles. “Se o DNA mitocondrial paterno mutado não é removido imediatamente, essas mutações podem se acumular ao longo de várias gerações”, disse a pesquisadora Arielle Duhaime-Ross.

[ Fotos: Reprodução / Staystrong ]

Jornal Ciência