Células HeLa: mulher morta em 1951 salva vidas até hoje

de Otto Valverde 0

Henrietta Lacks dona das células HeLa

Médicos utilizam células humanas cultivadas em laboratório para aprender sobre seu funcionamento. O objetivo e usá-las em testes e teorias sobre as causas e tratamentos de certas doenças. E, quando o assunto é ajudar a ciência, Henrietta Lacks deu uma inesquecível contribuição. 

Linhagens celulares podem ser congeladas durante décadas. Elas também podem ser divididas em diferentes lotes. Em 1951, cientistas da Universidade Johns Hopkins, nos EUA, criaram a primeira linhagem celular humana imortal. A amostra de tecido foi retirada de uma jovem que tinha câncer cervical.

Henrietta Lacks dona das células HeLa

Estas células, chamadas células HeLa, rapidamente se tornaram essenciais na pesquisa médica. Mas, apesar disso, sua identidade e história permaneceram um mistério durante anos.

Sua história

Henrietta Lacks, de 31 anos, tinha cinco filhos e morreu de câncer cervical em 4 de outubro de 1951. Enquanto sua doença foi uma verdadeira tragédia para a sua família, para o mundo da medicina era uma espécie de milagre. Nos anos após a sua morte, as células foram extraídas de seu tumor e esse foi um marco importante dos avanços científicos que temos hoje. 

A vacina contra a poliomielite, a clonagem, o mapeamento de genes e a fertilização in vitro: todos esses marcos de saúde, e muitos outros, aconteceram graças à vida e à morte de uma jovem mãe. As células HeLa – nomeado assim por causa de seu nome, foram a primeira linha celular humana “imortal” em toda a história.

Os cientistas do hospital Johns Hopkins, onde ela morreu, vinham trabalhando há anos para tentar iniciar uma linha de células que se reproduzissem, mas as células sempre morriam. As de Lacks foram as primeiras capazes de se reproduzir, tornando-se assim o que se chamou de imortais.

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As células normais de um corpo humano que são mantidas em laboratório têm uma vida útil limitada, no entanto, uma linha celular imortal é cultivada de um modo particular, por isso tem a capacidade de se proliferar indefinidamente – sem “prazo limite estabelecido”. 

Células HeLa. Como foi possível?

Como as células de Henrietta conseguiram sobreviver e foram capazes de reprodução, ainda é algo que permanece um mistério, visto que todas as tentativas fracassaram com outros pacientes. O melhor palpite é que a razão estava ligada à ferocidade de seu tumor, que talvez tenha sofrido alguma contribuição de outra condição que ela possuía: sífilis.

Assim que ficou claro que havia células suficientes, todos os tipos de pesquisas e experimentos se tornaram possíveis. Para começar, os médicos puderam observar a divisão celular e o comportamento de diversos vírus dentro das células. Além disso, foi possível analisar as células de maneira que não era possível como as de dentro do corpo humano. Elas foram expostas a toxinas e infecções para serem observadas. 

Esse processo levou a milhares de novos relatos, ajudando a moldar o movimento médico na segunda metade do século 19. Atualmente, há algumas células HeLa em laboratórios pelo mundo. As células também foram usadas em prol de grandes empresas farmacêuticas.

E a família?

Apesar do uso, a família de Lacks não recebeu nenhuma ajuda de custo. Após a morte, sua filha mais velha, Elsie, sofreu com problemas de desenvolvimento e morreu no hospital pouco tempo depois.

Um dos filhos, Joe, deixou a escola e esfaqueou outra criança, sendo condenado a 15 anos de prisão. Sua filha Deborah era uma mãe adolescente que deixou o marido depois de meses de abuso.


“Se nossa mãe é tão importante para a Ciência, por que não temos nem mesmo seguro de saúde?”, disse uma das filhas à época que sentia-se revoltada por não ter nem um tipo de ajuda. 


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Linhagens de células HeLa foram contaminadas e os médicos perceberam que precisavam de descendentes de Henrietta para resolver esse problema.


“Quando eles coletaram as amostras não explicaram o que estava acontecendo”, disse Skloot.


Os filhos de Henrietta pensaram que estavam coletando as informações para estudar o câncer que matou sua mãe – e foram enganados. Outra questão colocada pela família foi sobre o direito que temos sobre materiais biológicos retirados do próprio corpo ou de parentes próximos. Que direitos teriam os fornecedores das amostras? Esta questão nunca foi resolvida. 

Há muitas questões que precisam ser respondidas. Mas, enquanto isso, em um cemitério em Virgínia, onde Henrietta Lacks foi enterrada em uma cova sem identificação formal, foi finalmente erguido um monumento após décadas.

Em sua lápide, as palavras deixadas eram dedicadas “à memória de uma mulher que tocou a vida de muitos”.

Fonte: Para Los Curiosos Fotos: Reprodução / Para Los Curiosos

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