Antisséptico antigo pode ajudar no combate às superbactérias

de Julia Moretto 0

Um antisséptico usado em hospitais na época da Primeira Guerra Mundial foi estudado após sete décadas, e pode ser uma grande promessa na prevenção do resfriado comum, além de poder ser a chave para combater a resistência aos antibióticos – uma das maiores ameaças à saúde global atualmente.

O simples antisséptico, feito com carvão de alcatrão, foi substituído pela penicilina depois da Primeira Guerra. Ele combate infecções bacterianas e virais, impedindo que a mutação dos patógenos seja mais rápida que os medicamentos. Ele foi substituído por penicilina, mas pensamos que, com novas bactérias – que são mais resistentes ao tratamento atual -, pudéssemos ter um novo retorno“, disse um dos pesquisadores por trás da descoberta, Michael Gantier, do Instituto Hudson de Pesquisa Médica, na Austrália.

Ele foi usado pela primeira vez no início de 1900 como um tratamento tópico para evitar que as feridas fossem infectadas. Era utilizado em hospitais e lares para tratar desde infecções do trato urinário até gonorreia, durante os anos 1940, quando a penicilina tomou seu lugar. Muitos dos patógenos do mundo conseguiram se transformar, e os nossos medicamentos à base de penicilina não estão conseguindo os reconhecer ou destruir. Como resultado, bactérias resistentes aos antibióticos matam cerca de 700.000 pessoas por ano no mundo.

Além de superbactéria hospitalar comum, resistente à meticilina, Staphylococcus aureus (MRSA), os especialistas estão preocupados que a gonorreia esteja prestes a se tornar resistente a todas as drogas restantes. Já existem cepas resistentes de tuberculose, pneumonia e E. coli, pelo o que sabemos. Se não for encontrado um substituto viável para a penicilina, doenças resistentes a antibióticos poderão matar cerca de 10 milhões de pessoas por ano até 2050. O antisséptico, chamado acriflavina, ressurge como uma possibilidade viável e de baixo custo.

Como a acriflavina pode solucionar o nosso problema?

Gantier e sua equipe estudaram a droga de passado sucesso, já que até o momento ninguém havia investigado como ela realmente funciona. “Literatura científica anterior observa suas qualidades antibacterianas em tubos de ensaio, mas a sua ação nunca foi totalmente definida“, disse Gantier Bill Condie.

A equipe investigou seu comportamento em células humanas e descobriu que a substância se liga ao DNA do paciente para ajudar o sistema imunológico enquanto uma infecção viral ocorre. Ao mesmo tempo, o antisséptico se liga ao ADN viral no corpo, diminuindo a propagação de vírus. Nós mostramos pela primeira vez que a acriflavina ligada ao DNA celular pode ativar o sistema imune do hospedeiro, desencadeando uma resposta imune em uma gama de bactérias“, disse Gantier.

Quando o grupo investigou o efeito da droga sobre um vírus da gripe comum em tecido pulmonar humano, descobriu que as células que tinham sido tratadas com acriflavina três dias antes da infecção tiveram uma resposta mais rápida ao vírus. Além disso, o vírus se espalha mais lentamente através delas do que nas células do controle.

Os resultados sugerem que o medicamento possa ser inalado, em pequenas doses, como um tratamento preventivo para pacientes em alto risco de contraírem infecções virais específicas, ou por populações em risco de surtos virais. Por enquanto, os pesquisadores só testaram as respostas de acriflavina a infecções virais, mas Gantier diz que pela forma como funciona, também se aplica a infecções bacterianas.

Nosso estudo indica que acriflavina estimula o sistema imune do hospedeiro, em vez de matar as bactérias, sugerindo que não é provável de conduzir mutações em bactérias“, relatou Cosmos. A equipe ainda precisa realizar ensaios clínicos para testar a eficácia do antisséptico contra diferentes estirpes de infecções virais e bacterianas, mas ela está esperando os resultados obtidos em experiências de laboratório. O estudo foi publicado no Nucleic Acids Research.

[ Science Alert ]  [ Fotos: Reprodução / Wikipedia ] 

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