Antibióticos presentes na carne podem estar prejudicando nossa saúde

de Merelyn Cerqueira 0

No ano passado, a Food and Drug Administration (FDA), órgão regulamentador dos EUA, proibiu o uso de antibióticos para a promoção e crescimento de animais de corte.

No entanto, criadores degado orgânico no país tem denunciando que a proibição está sendo desrespeitada pela maioria dos criadores.

O problema, segundo o jornalista e escritor Willian D. Cohan, em um artigo para o The New York Times, é que a administração deste tipo de medicamento pode estar prejudicando nossa saúde, especialmente a do nosso microbioma intestinal. 

Em 2015, Sandy Lewis, 79 anos, ex-empresário de Wall Street e agora um fazendeiro de gado orgânico de Nova York, comprou 13 touros por cerca de 5 mil dólares cada de um criador em Oklahoma.

Cerca de algumas semanas depois, dois dos animais haviam morrido de maneira inexplicável. Uma autópsia revelou apenas resultados inconclusivos. Foi então que, após a morte de mais duas cabeças, ele levou os corpos para uma análise na Cornell Univeristy.

Cientistas concluíram que eles haviam desenvolvido anaplasmose, uma doença bacteriana capaz de destruir os glóbulos vermelhos, privando os animais de oxigênio. A doença, que é relativamente rara na região, infectou um quarto do rebanho de Lewis, provocando o abate de 100 animais e um prejuízo de 100 mil dólares.

A experiência de Lewis chegou até Cohan, que há dois anos vem fazendo pesquisa sobre o uso indevido de antibióticos em fazendas de criação de suínos, bovinos e avícolas, que são plenamente capazes de chegar até o nosso prato.

Há muito tempo é comum o uso de antibióticos na agricultura, a fim de ajudar os animais a combater doenças e engordarem mais rápido para o abate, afinal, tempo é dinheiro.

No início de 2017, a FDA promulgou regras proibindo o uso de antibióticos humanos para a promoção do crescimento de animais, exigindo que os fazendeiros obtivessem prescrição veterinária para o uso dos remédios.

O órgão promulgou as restrições devido às preocupações sobre a crescente resistência das bactérias aos antibióticos, que atualmente causam cerca de 23 mil mortes por ano nos EUA, juntamente com perdas financeiras de US $ 34 bilhões, de acordo com dados dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

Segundo um artigo recente publicado na revista Molecules, feito por pesquisadores sul-africanos, a resistência a antibióticos é de grande preocupação porque as bactérias associadas aos animais podem ser patogênicas para os humanos, sendo facilmente transmitidas pelo consumo da carne ou contato com resíduos animais contaminados.

De acordo com Avinash Kar, advogada do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, de todos os antibióticos vendidos nos Estados Unidos (usados ​​para tratar doenças humanas), cerca de 70% vão para a ração e a água dos animais.

Além da ameaça da resistência aos medicamentos, há evidências de outro risco sobre o uso excessivo de antibióticos em animais de corte: a possibilidade de que as pessoas que consomem a carne com antibiótico consumam o medicamento, bem como bactérias resistentes que vão parar diretamente em seus aparelhos digestivos – com resultados potencialmente prejudiciais.

Um corpo crescente de pesquisas tem mostrado que os antibióticos que tomamos para tratar infecções podem perturbar nosso microbioma intestinal, ou seja, as bactérias que vivem em nosso estômago e intestinos e que são essenciais para digestão.

Esse problema tem sido associado ao surgimento de doenças como obesidade, diabetes juvenil, asma e alergias. Alguns pesquisadores também acreditam que alterações no microbioma intestinal levaram a um aumento na incidência de autismo, mal de Alzheimer e Parkinson. 

Lewis, por sua vez, argumenta que a destruição contínua das bactérias essenciais de nosso microbioma intestinal pode levar a epidemias mortais de doenças crônicas ou resistentes à medicamentos.

Embora possa soar como uma hipérbole, há um amplo consenso de que o uso excessivo de antibióticos em animais e pessoas está destruindo nossa capacidade de combater certas doenças e infecções.

Fonte: NY Times Fotos: Reprodução / NY Times

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